terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

O papel da mamografia e da biopsia percutânea no diagnóstico precoce do câncer de mama

Postado por: Dr. Roberto Alfonso Arcuri e Mônica Travassos Jourdan*

O diagnóstico precoce do câncer de mama se baseia em dois recursos diagnósticos: a mamografia e os sistemas de biopsia percutânea.

É inquestionável que a mamografia, desenvolvida a partir de 1966, mas efetivamente consolidada tecnicamente no início dos anos 80, é o melhor método de rastreamento e o que tem permitido aumentar o número de diagnósticos de lesões iniciais. A Sociedade Brasileira de Mastologia e o Colégio Brasileiro de Radiologia defendem que este procedimento seja usado em mulheres a partir dos 40 anos.

Já as biopsias percutâneas começaram a ser utilizadas a partir de 1990. Seu melhor desempenho substituiu a citopatologia por punção com agulha fina (PAF) e consolidou-se um aumento significativo do diagnóstico das lesões iniciais mamográficas e de microcalcificações.

A core biopsy (também conhecida como biopsia percutânea com agulha grossa com propulsor automático, biopsia por agulha de corte, biopsia por trocanter, stereotactic core breast biopsy ou simplesmente “core”) foi a primeira a ser desenvolvida (1).

A palavra “core” tem origem inglesa e significa coração, âmago, centro, miolo, núcleo. Core biopsy, então, significa biopsiar o núcleo, ou seja, retirar fragmentos do centro da lesão para estudo histopatológico (2). Está constituída por uma pistola com mola propulsora de uma agulha que perfura a pele, atinge a área a ser biopsiada e retorna, retirando um filete tecidual com um tamanho que depende do diâmetro da agulha (de 12 a 18 gauge). Para a retirada de um novo fragmento deve ser realizado um novo procedimento.

Esta técnica é indicada principalmente em lesões sólidas e pode ser guiada por estereotaxia ou por ultrassonografia ou ressonância magnética. Quanto maior o tamanho do nódulo maior será a sensibilidade do método.

Em 1996 foi descrito um novo instrumento para biopsia percutânea: o Mammotome®, sendo a biopsia realizada com ele conhecida como mamotomia (biopsia percutânea com agulha grossa vácuo-assistida, directional vacuum-assisted biopsy [DVAB]). Consiste em um sistema de biopsia utilizando aspiração à vácuo através de uma cânula dupla com diâmetros que oscilam entre 11 e 14 gauges. As cânulas têm uma janela que, como consequência do vácuo, permite a entrada do tecido no lúmen. A porção externa da cânula gira e corta o tecido, sendo que a amostra assim obtida é armazenada num receptáculo. Esta técnica permite obter vários fragmentos teciduais com ou sem retirada da cânula e, inclusive, ressecar a totalidade da lesão (3).

A mamotomia é recomendada para alterações não palpáveis diagnosticadas pela mamografia com ou sem microcalcificações.

Embora as indicações da core e da mamotomia sejam semelhantes, no caso de microcalcificações esta última tem melhor desempenho: retira um número maior de fragmentos e é possível colocar um clipe metálico no alvo. Já nas ditas distorções do parênquima a exérese da lesão é o padrão ouro.

“Gauge” (G) é uma antiga unidade de espessura derivada do francês “jauge” que significa “resultado de uma medida” e já mencionada em documentos do século XIII (4). Originado na indústria dos arames de ferro na Inglaterra, cada artesão tinha seu próprio padrão que diferia de um para outro. No século XIX, foi definido o gauge em frações de polegadas na Inglaterra e de milímetros nos Estados Unidos de América. No padrão americano, um gauge equivale a um diâmetro de 7,348 mm; 8G a 3,264 mm; 11G a 2,305 mm; 14G a 1,628mm e 18G a 1,024mm (figura acima). Apesar dos padrões determinados, os diâmetros das agulhas em anestesia e dos aparelhos de core e mamotomia continuam sendo referidos em gauges, quiçá pela simplicidade: é mais fácil falar em agulha 14G que em agulha de 1,628mm. Para um melhor entendimento, quanto menor o gauge maior a espessura do fragmento .

As diferenças das amostras obtidas pelas diferentes agulhas podem ser visualizadas na figura ao lado.






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*Médica Especialista em Mastologia pela Sociedade Brasileira de Mastologia

Notas

(1) Parker SH, Lovi JD, Jobe WE et alli. Stereotectic breast biopsy with a biopsy gun. Radiology 1990;176:741-747.
(2) Luna CR. Biopsia de fragmentos guiada por ultra-sonografia mamária, uitlizando-se agulha de 18 gauge. Dissertação (mestrado) – Rio de Janeiro, UFRJ / Faculdade de Medicina, 2004.
(3) Burbank F, Parker SH, Fogarty TJ. Stereotactic breast biopsy: improved tissue harvesting with the Mammotome. Am Surg 1996;62:738-744.
(4) Pöll JS. Historical Note: The story of the gauge. Anaesthesia 1999;54:575-581.