terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Resumo de trabalho publicado no Am J Clin Pathol 2009

Postado pela Dra. Elizabeth de Carvalho Alves*


The Bethesda System for reporting thyroid cytopathology

Cibas ES,1 Ali SZ.2
From the Departments of Pathology, 1Brigham and Women’s Hospital and Harvard Medical School, Boston, MA; and 2The Johns Hopkins Medical Institutions, Baltimore, MD.
Am J Clin Pathol 2009;132:658-665


Para dar um determinado tratamento à terminologia e outros resultados relacionados à punção aspirativa com agulha fina (PAAF) da tireóide, o Instituto Nacional de Câncer dos Estados Unidos de Norte América (NCI) patrocinou a Conferência da Situação Científica da PAAF da Tireóide do NCI.

As conclusões, visando os termos e os critérios morfológicos do encontro do NCI, conduziram ao Projeto do Atlas Bethesda da Tireóide, que forma uma estrutura para o Sistema Bethesda para Relatos da Citopatologia da Tireóide (TBSRTC). Para maior clareza de comunicação, o sistema recomenda que cada relatório comece com 1 a 6 categorias de diagnóstico geral. Os participantes do projeto esperam que a adoção desta estrutura flexível facilite a comunicação entre os citopatologistas, endocrinologistas, cirurgiões, radiologistas e outros profissionais envolvidos; facilite ainda a correlação cito-histopatológica das doenças tireoidianas e as pesquisas em epidemiologia, biologia molecular, patologia e diagnóstico das doenças da tireóide. Irá permitir também uma maior facilidade e confiabilidade entre os dados de diferentes laboratórios, em estudos colaborativos nacionais ou internacionais.


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* Médica especialista em citopatologia e em patologia pela Sociedade Brasileira de Citopatologia e pela Sociedade Brasileira de Patologia. Formou-se pela Escola Médica do Rio de Janeiro da Universidade Gama Filho. Com pós-graduação em anatomia patológica no Instituto de Patologia da Santa Casa da Misericórdia do Rio de Janeiro, chefiou o serviço de anatomia patológica do Hospital Mário Kroeff, no Rio de Janeiro. Atualmente é a responsável técnica de O Aleph e sócia fundadora do laboratório.

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

A proposta do Instituto Europeu de Oncologia (EIO) - 3ª. entrega

Nas postagens anteriores, falamos que a proposta do TNM(EIO) exibia dois parâmetros principais:

Primeiro: usa a classificação DIN – LIN.
Segundo: reformula os critérios da codificação TNM.

Em relação ao segundo item, apresenta modificações no T, no N e no M.

As modificações do T já foram comentadas. As do N são as que permitem explicitar quantos linfonodos foram estudados e quantos estavam livres ou comprometidos, se pertenciam à cadeia axilar (sem identificação), ao linfonodo sentinela (ns) ou a cadeia da mamária interna (IM). Permitem saber também se houve invasão extracapsular (ExCap) ou se houve linfonodos ipsilaterais positivos unidos entre si (BLN).

As modificações em relação às metástases à distância são as que identificam os órgãos comprometidos através do uso da primeira letra em maiúscula do nome do órgão (em inglês): L para pulmão, P para pleura, B para osso, S para pele, H para hepática, N para linfonodos à distância, etc.

Nesta proposta acrescentam-se também os dados biológicos, colocados imediatamente após os dados do T. Incluem-se os resultados da pesquisa dos receptores de estrogênio e de progesterona, da sobrexpressão (pela imuno-histoquímica) e/ou amplificação (pelo FISH) do HER2.

Em resumo: uma paciente com um tumor de 2,8 cm, com extenso componente intraductal e invasão vascular peritumoral, com 1 linfonodo sentinela positivo entre 3 pesquisados, com 2 linfonodos positivos no esvaziamento axilar entre 20 dissecados, com metástases em pulmão, ER positivo em 70% e PR positivo em 40% das células tumorais, HER2 sobrexpresso escore 3, teria o TNM grafado dos seguintes modos segundo a norma da UICC e a proposta do EIO:

TNMUICC: pT2 pN1(sn) M1
TNMEIO : pT 2,8 EIC PVI ER+70 PR+40 HER2 +3 pNsn(1/3) pN(2/20) M1 L

Resumo de trabalho publicado no Diagn Cytopathol 2009

Treacy A; Reynolds J; Kay EW; Leader M; Grace A
Department of Pathology, Royal College of Surgeons in Ireland, Education and Research Centre, Beaumont Hospital, Dublin 9, Ireland. anntreacy@mac.com

Has the ThinPrep method of cervical screening maintained its improvement over conventional smears in terms of specimen adequacy?

Diagn Cytopathol;37(4):239-40, 2009 Apr.

A citologia em meio líquido (CML) substituiu, nos últimos anos, a avaliação com o esfregaço convencional em muitos centros. Em nosso laboratório, esta transferência se deu em 1999. Naquele tempo, realizamos um estudo de amostras separadas comparando o método convencional de avaliação do esfregaço cervical com o sistema ThinPrep. Este estudo identificou uma melhora dramática na adequação da amostra com CML. Enquanto 11% das preparações convencionais foram informadas como insatisfatórias e quase 9% foram informadas como subótimas, a avaliação dos mesmos casos usando CML mostrou esta figura combinada reduzida a 2,3%.

Objetivo

Avaliar se esta redução de esfregaços insatisfatórios tem sido mantida com o uso da CML.

Foram resgatados os dados de arquivo de todos os esfregaços informados durante 2005 (100% CML). O número de informes insatisfatórios foi calculado. Foram identificadas em cada caso as razões do informe insatisfatório. A taxa geral de insatisfatórios foi comparada com a descrita no estudo de amostras separadas de 1999. Um total de 41.312 testes foi informado em 2005. Foram informados como insatisfatórios 1342 casos (3,25%). Nossos achados sustentam os valores em curso de CML, em uma rotina laboratorial de rastreio cervical, em termos de manter uma baixa taxa de casos insatisfatórios.

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Resumo de trabalho publicado no J Obstet Gynaecol Res 2009

ThinPrep Pap-smear and cervical intraepithelial neoplasia in reproductive-aged Thai women

Rugpao S; Koonlertkit S; Ruengkrist T; Lamlertkittikul S; Pinjaroen S; Limtrakul A; Werawatakul Y; Sinchai W.

Department of Obstetrics and Gynecology, Faculty of Medicine, Chiang Mai University, Chiang Mai, Thailand. surugpao@mail.med.cmu.ac.th
J Obstet Gynaecol Res 2009;35(3):551-554.

Objetivo: estimar a incidência da citologia cervical anormal pelo teste Pap ThinPrep e da neoplasia intraepitelial cervical (NIC) em mulheres Thai adultas jovens em idade reprodutiva.

Método: um total de 1254 mulheres distribuídas em todas as regiões de Tailândia foi monitorado desde 2002 até 2004. As mulheres foram rastreadas para citologia cervical anormal utilizando o método do ThinPrep cada 6 meses. A interpretação da citologia cervical foi baseada no Sistema Bethesda, versão 2001. As mulheres que tiveram um resultado no ThinPrep de células escamosas atípicas de significado indeterminado ou pior foram submetidas a exame colposcópico. Os ThinPrep e todas as amostras teciduais cervicais obtidas dos procedimentos diagnósticos ou terapêuticos foram analisados e revisados pelo Serviço do Laboratório Central Covance, Indianapolis, USA.

Resultados: a incidência cumulativa de testes Pap ThinPrep anormais foram as seguintes: 15,3% mulheres/ano (MA) (95% intervalos de confiança [IC] 12,3-18,90) a 6 meses; 12,3% MA (95% IC 10,3-14,6) a 12 meses e 11,6% MA (95% IC 10,0-13,5) a 18 meses. De 1448,6 mulheres/ano de seguimento, a incidência de NIC1 foi 4,1% MA (95% IC 3,2-5,3); NIC2 0,8% MA (95% IC 0,4-1,4) e NIC3 0,6% MA (95% IC 0,3-1,2).

Conclusão: a incidência de testes Pap ThinPrep anormais e de NIC em mulheres Thai adultas jovens tem sido comunicada. Não foram avaliáveis dados comparáveis.

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

A proposta do Instituto Europeu de Oncologia (EIO) - 2ª. entrega

Na postagem anterior, falamos que a proposta do TNM(EIO) exibia dois parâmetros principais:

Primeiro: usa a classificação DIN – LIN.
Segundo: reformula os critérios da codificação TNM.

Em relação ao segundo item, apresenta modificações no T, no N e no M.

As modificações no estádio T são:

• Tmic: DIN com microinvasão ≤ de 1 mm.
• T(tamanho): maior tamanho em cm do tumor invasor.
• Teic: indica a presença de carcinoma invasor com extenso componente intraductal (na sigla inglesa) desde que o componente intraductal seja ≥ a 25% do componente invasor.
• Tpvi: indica a presença de carcinoma invasor com invasão vascular peritumoral (na sigla inglesa).
• Tinf: indica a presença de carcinoma invasor com evidência clínica de carcinoma inflamatório ou linfangítico.

Acontece que a extensão do componente intraductal num carcinoma invasor é um tema controvertido. Com a palavra, os autores:

Azzopardi, em 1968, estabeleceu que um carcinoma ductal invasivo (CDI) com carcinoma ductal in situ (CDIS - hoje DIN) predominante é aquele em que em todo é um CDIS com focos de invasão do estroma numa proporção de 4:1.(¹)

Elston e Ellis ao falar de “extenso componente in situ”, afirmaram que esta proporção é variável e subjetiva. O carcinoma invasor estaria em menos de 20% do total tumoral.(²)

Tavassoli comentou que alguns autores reconhecem um subtipo de CDI SOE, o carcinoma ductal infiltrante com extenso componente in situ.(³)

Por sua vez, Rosai afirmou que a expressão “carcinoma intraductal extenso” (EIC) tem sido proposta para tumores nos quais o componente intraductal compreenda 25% ou mais da área determinada pelo tumor infiltrativo e que também se encontre presente nos tecidos mamários adjacentes. Não existiria correlação entre tamanho do tumor e grau de invasão presente. (4)

Elling et alii definiram três grupos de tumores em relação à extensão do componente in situ:

a) carcinoma invasivo com componente in situ predominante (CDIS-P) igual ou maior de 80% da massa tumoral com mínimo componente invasivo (relação 4:1);

b) carcinoma invasivo com componente intraductal extenso (CDIS-E) maior de 25% e menor de 80% da massa tumoral e presente além da margem invasiva;

c) carcinoma invasivo com componente intraductal marginal (CDIS-M) quando o carcinoma intraductal representasse menos de 25% e estivesse presente na periferia da margem infiltrativa. (5)

A proposta do EIO permite identificar claramente o tamanho tumoral sem agrupar os tumores em faixas como no padrão da UICC, partindo do princípio que um tumor T2 de 2,2 cm não poderia ser semelhante a um T2 de 5 cm.

Em relação ao critério de extenso componente intraductal ou DIN aplicaria os critérios de extensão originais de Azopardi, porém utilizando a nomenclatura de Elston e Ellis e de Rosai. Não acompanharia os conceitos de Elling e col.

Os critérios da extensão do componente intraductal ou DIN, da invasão vascular peritumoral e da evidência clínica de carcinoma inflamatório poderiam estar presentes juntos num tumor. Assim sendo, uma paciente com um tumor invasor de 1,5 cm e com os três parâmetros explicitados, teria o T grafado como: T1,5 EIC PVI inf.

Continua.

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Referências bibliográficas

Azzopardi JG. International Histological Classification of Tumours, Nº 2. Histological Typing of Breast Tumours. 2nd ed. World Health Organization: Geneva, 1981, p. 19.

Elston CV, Ellis IO, Goulding H, Pinder SE. Role of pathology in the prognosis and management of breast cancer. In: Elston CW, Ellis IO (eds.). The Breast, Systemic Pathology, Vol. 13, 3rd ed. Edinburgh: Churchill Livingstone, 1998, pp. 398-399.

Tavassoli FA, Hoefler H, Rosai J, Holland R, Ellis IO, Schnitt SJ, Boecker W, Heywang-Kobrunner SH, Moinfar F, Lakhani SR. Intraductal proliferative lesions. In: Tavassoli FA, Devilee P (eds.). World Health Organization Classification of Tumors. Tumours of the breast and female genital organs. Lyon: IARC Press, 2003, p. 20.

Rosai J. Surgical Pathology. 9th ed. St. Louis: Mosby, 2004, p. 1796.

Elling D, Vésper AS, Fiedler B, Martin H, Krocker J. Intraductal component in invasive breast cancer: analysis of 250 resected surgical specimens. The Breast

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

A proposta do Instituto Europeu de Oncologia (EIO) - 1ª. entrega

Durante o Congresso Brasileiro de Mastologia deste ano, em Gramado, o Professor Umberto Veronesi apresentou a proposta do EIO para uma nova classificação do TNM. Um texto em português foi distribuído, provavelmente tradução de um artigo publicado ou a publicar em revista internacional, com nomes dos autores (G. Farante, S. Zurrida, G. Viale, F. Sauer, A. Goldhirsch e U. Veronesi), sem a identificação bibliográfica do mesmo.

Neste ano, o grupo de Veronesi publicou um trabalho sobre o tema que pode ser visitado em Breast J.
Nada mais justo que adequar a nomenclatura à atual realidade. Eu, pessoalmente, sou a favor desta proposta, sempre que seja colocada após a clássica da UICC até que este organismo internacional se defina neste sentido.

A proposta do EIO exibe dois parâmetros principais:
Primeiro: usa a classificação DIN – LIN.
Segundo: reformula os critérios da codificação TNM.

Em relação ao primeiro item, já nos temos posicionado favoravelmente neste blog em postagens anteriores, sabendo que o TNM não seria aplicável nestes diagnósticos.
Porém, temos algumas discordâncias com o texto distribuído. Nele, se utilizam os critérios originais de Tavassoli nos quais o DIN 1 estava dividido em:

1a: hiperplasia ductal sem atipias
1b: hiperplasia ductal atípica
1c: antigo carcinoma ductal in situ grau I.

A própria Tavassoli encarregou-se de propor algumas modificações na DIN 1, no seguinte modo:

1a: hiperplasia ductal sem atipias
1b: hiperplasia epitelial atípica e hiperplasia epitelial atípica tipo plana monomórfica
1c: hiperplasia epitelial atípica, extenso carcinoma ductal in situ grau I (cribriforme/micropapilar)

Em vários trabalhos foram definidos os novos critérios da hiperplasia ductal usual e o pequeno aumento do risco relativo (1,5 vezes) que representa.

Por estes e outros motivos, Tavassoli e col atualizaram os conceitos da DIN 1, do seguinte modo:
DIN 1a: lesões de células colunares com atipias (atipia epitelial plana)
DIN 1b: hiperplasia ductal atipica
DIN 1c: carcinoma ductal in situ de baixo grau.

Acreditamos que este deveria ser o critério a ser utilizado no TNM (EIO). É bom lembrar que esta é uma proposta não unânime da OMS.
Continua.

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Referências bibliográficas


Veronesi U; Zurrida S; Viale G; Galimberti V; Arnone P; Nolè F. Rethinking TNM: a breast cancer classification to guide to treatment and facilitate research. Breast J 2009;15(3):291-295.
Tavassoli FA. Ductal Carinoma in situ: introduction of the concept of ductal inraepithelial neoplasia. Mod Pathol 1998;11:140-154.
Tavassoli Fa. Ductal intraepithelial  neoplasia of the breast. Virchows Arch 2001;438:221-227.
Rosai J. Surgical Pathology. 9th ed. St. Louis: Mosby, 2004, pp. 1780-1782.
Gordis L. Epidemiology. Philadelphia: W.B. Saunders Company, 1996, pp. 141-154.
Carvalho Rodrigues P. Risco relativo e testes diagnósticos. Rio de Janeiro: Ministério da Saúde, Instituto Nacional de Câncer, INCA, Coordenação de Ensino e Divulgação Científica, Manual Didático Número 9.
Tavassoli FA, Hoefler H, Rosai J, Holland R, Ellis IO, Schnitt SJ, Boecker W, Heywang-Kobrunner SH, Moinfar F, Lakhani SR.  Intraductal proliferative lesions. In: Tavassoli FA, Devilee P (eds.). World Health Organization Classification of Tumors. Tumours of the breast and female genital organs. Lyon: IARC Press, 2003, pp. 63-73.